“Encontramos um depósito de lixo”. A reação da diretora-presidente da Fundação de Cultura de Corumbá, Wanessa Rodrigues, não poderia ser diferente ao entrar no centenário casarão Wanderley & Baís e se deparar com o abandono do prédio e do equipamento valioso ali instalado há 17 anos: o Museu de História do Pantanal (Muhpan). A administração passada da cidade é responsabilizada pelo descaso que levou ao fechamento do museu, um dos mais completos e expressivos sob a ótica do riquíssimo acervo que conta a ocupação do Pantanal em 8 mil anos. Muitos objetos foram empilhados e equipamentos, obras de arte e registros históricos foram furtados, danificados ou destruídos. Dentre todos os malefícios causados ao patrimônio e à memória local nos últimos anos, com obras inacabadas de restauração, falta de manutenção de prédios e monumentos (como o Cristo Rei do Pantanal, impregnado com as cinzas das queimadas de 2024) e ausência de políticas públicas, a situação do Muhpan exige uma intervenção urgente, urgentíssima. Triste realidad e – A recuperação do museu terá um custo alto, ainda em levantamento. A prefeitura de Corumbá, que é detentora do equipamento desde 2020, assumiu o compromisso de intervir imediatamente, começando pela parte estrutural do prédio, com infiltrações, cupim tomando conta, hidráulica e elétrica danificadas, telhado com goteiras, janelas quebradas… “Triste ver um equipamento cultural dessa importância abandonado”, lamenta Wanessa Rodrigues. “Fizemos uma primeira limpeza, havia muito lixo. Encontramos documentos onde funcionários da prefeitura, reiteradamente, cobravam providências para reparar os danos ao espaço. Estamos finalizando o levantamento e a prioridade é restaurar a estrutura do prédio.” O diagnostico inicial da situação encontrada no museu é devastador. No primeiro piso, a parte interativa – o corredor de imersão ao Pantanal – não funciona com o furto de equipamentos, como retroprojetores. No piso acima, o salão expositivo, peças danificadas, jogadas ao chão, ou furtadas também. No terceiro andar, área tecnológica e peças destruídas pelas goteiras. O terceiro andar, em especial, está interditado devido aos graves danos causados pela infiltração e pela infestação de cupins, que afetaram, inclusive, obras de artistas renomados, dentre os quais Humberto Espindola. “Vamos buscar apoio dos governos estadual e federal e da iniciativa privada para reabrir o museu, é nosso compromisso”, garante o prefeito Gabriel Oliveira. Túnel do tempo – Construído em 1876, o Wanderley & Baís, é uma das imponentes edificações do Casario do Porto, tombada como patrimônio histórico nacional e testemunho do período em que Corumbá foi terceiro maior porto fluvial da América Latina, até meados do século XX. Sua arquitetura com influência europeia se impõe na rua Manoel Cavassa, de frente para o Rio Paraguai e o Pantanal. A implantação do Muhpan surgiu na primeira década do século XXI, quando se iniciou a reurbanização do porto e a recuperação do casario pelo Programa Monumenta. Projetado pela Fundação Barbosa Rodrigues, de Campo Grande, foi inaugurado em 2008. Sua concepção extrapolou o projeto inicial com a riqueza de peças arqueológicas e artísticas resgatadas dentro e fora do Brasil. Considerado um dos museus mais importantes do país, pelo seu acervo e relevância histórica e cultura, abriga em sua coleção o fóssil Corumbella, de 550 milhões de anos, encontrado em Corumbá. Visitá-lo significa uma “viagem” pela ocupação humana do Pantanal, a colonização europeia, as monções, as guerras, os povos indígenas, a epopeia do telegrafo, o apogeu do porto, a chegada da estrada de ferro…