Se você curtiu o Carnaval de Campo Grande neste ano, certamente, em algum momento, ouviu a voz potente de Silveira Soul cantando brasilidades que agitaram multidões de foliões. Nascido em Corumbá, o artista tem se destacado na arte que tem um compromisso especial: levar aos ouvintes uma mensagem de afeto e acolhimento, um amparo que ele não teve na adolescência. Foi dentro da igreja evangélica que Alex Silveira, o Silveira Soul, encontrou sua primeira conexão com a arte. Lá, aos 13 anos, teve as primeiras aulas de teclado e participou de corais e bandas, mergulhando na black music. Mas a religiosidade que inicialmente o acolheu acabou se tornando um espaço onde não encontrou suporte para questões fundamentais sobre si mesmo. Em 2019, ao encarar um processo interno de autodescoberta e aceitação, Silveira decidiu deixar a igreja e direcionar sua energia para a música autoral. “Foi uma transformação interna muito grande. Não tive acolhimento dentro da igreja, então precisei olhar para mim mesmo”, relembra. A partir desse momento, sua arte tornou-se um canal para expressar vivências e fortalecer quem enfrenta dilemas semelhantes aos que viveu na juventude. Com esse propósito, ele criou o projeto “Afroafetos”, que mistura composições autorais e rodas de conversa para discutir afeto e acolhimento dentro da comunidade negra e LGBTQIA+. “O projeto existe para levar o que eu não tive na adolescência. Quero que outras pessoas se sintam representadas e amadas”, explica. Afroafetos também dialoga com outras linguagens artísticas, como a moda e as artes visuais, ampliando a discussão sobre identidade e pertencimento. A trajetória de Silveira Soul tem conquistado espaço na cena cultural de Mato Grosso do Sul. O cantor já se apresentou nos principais festivais do Estado, como o Festival América do Sul e o Festival de Inverno de Bonito, onde teve a oportunidade de abrir o show da cantora Iza. No Carnaval deste ano, esteve em diversos blocos de rua. “Foi uma culminância de anos de trabalho. O Carnaval está no meu sangue, é parte da minha história”, diz. Apesar do crescimento na música, Silveira ainda equilibra sua paixão com o trabalho como publicitário em uma agência de Campo Grande. “Ainda não vivo só de música, mas meu objetivo é continuar trabalhando para que cada vez mais pessoas ouçam minhas músicas e se conectem com essa mensagem”, afirma. Em abril, ele apresentará seu show “Afroafetos” no Teatro do José Octávio Guizzo, e em agosto iniciará a produção de seu primeiro álbum, consolidando a carreira que tem compromisso com o afeto e a representatividade. Para Silveira Soul, fazer música em Mato Grosso do Sul é também um ato de resistência, em um Estado onde o sertanejo domina o mercado musical. Porém, mesmo com as dificuldades, o cantor acredita na força da coletividade e na conexão com outros artistas da região. “Criamos redes de apoio, nos fortalecemos juntos. A arte negra e LGBTQIA+ tem espaço e merece ser celebrada”, avalia. Siga o Lado B no WhatsApp , um canal para quebrar a rotina do jornalismo de MS! Clique aqui para acessar o canal do Lado B e siga nossas redes sociais .