Moradores de um trecho da rua Frei Liberato, bairro Alta Floresta 2, em Ladário (cidade vizinha a Corumbá) convivem há mais de 12 anos com uma situação de calamidade pública sem solução: o tráfego durante 24h de caminhões transportando minério de ferro encobre as casas de poeira, e quando a via é umedecida vem o barro, que suja os muros e as paredes e dá “banho” de lama vermelha nos pedestres e motociclistas. A dona de casa Leda Maira da Silva Mendoza, 52, já fez protestos, fechando a rua, mas não encontrou apoio dos políticos locais e muito menos das empresas (são quatro hoje) responsáveis pelo transporte do minério, que sai das minas de Urucum para exportação no porto da cidade. Já sem esperanças, ela apelou para o Ministério Público (MPMS), que decidiu instaurar inquérito civil para investigar o caso que envolve danos à saúde. “Já enfrentei esses caminhões, quase fui atropelada, mas o nosso drama só piora por completo descaso das autoridades e das empresas transportadoras”, reclama Leda, que reside no local há 19 anos. “A poeira é um inferno, suja a casa toda, os caminhões passam em alta velocidade, não respeitam quem mora aqui. E ninguém toma providências, a prefeitura diz que essa rua é uma BR (rodovia federal) e a gente está nesse dilema”, lamenta. Bomba relógi o – A 2ª Promotoria de Justiça de Corumbá, finalmente, acatou as denúncias da moradora e instaurou inquérito civil, no dia 18 (edital foi publicado ontem no Diário Oficial do MPMS). Os impactos do tráfego pesado, dia e noite, vêm causando problemas de saúde (alergia, bronquite e mal estar), “devido a poeira excessiva”, segundo dona Leda. “As crianças tem sangramento nasal, vivemos numa bomba relógio, muita gente já se mudou daqui”, fala. A pedido do promotor de Justiça e titular da 2ª Promotoria de Justiça de Corumbá, Pedro de Oliveira Magalhães, um laudo pericial realizado pelo Núcleo Regional de Criminalidade comprovou as denúncias feitas em abaixo assinado por 30 moradores do bairro. O documento constatou que o tráfego intenso gera ruídos elevados, acima dos limites permitidos, e impacta o meio ambiente com a deposição de partículas do minério na vegetação. Responsabilidade – O Ministério Público informou que diante dos indícios de danos à saúde dos moradores e ao meio ambiente, foi determinado a realização de nova perícia na região. O órgão também oficiou o município de Ladário para prestar informações sobre o caso. “A investigação busca apurar as responsabilidades e adotar medidas para garantir a proteção o da população e do meio ambiente”, adiantou o MPMS, em nota. A notícia do inquérito civil chegou ao bairro no final do dia de ontem, gerando uma grande expectativa entre os moradores. Na calçada da Rua Frei Liberato, Leda Mendonza, mãe de 8 filhos, estava feliz. “Olha só, parece que até os caminhoneiros sabem da novidade. Eles estão buzinando pra gente”. Sua vizinha Mônica Campos quer saber quem pagará o conserto do carro. “O pó desse minério corroi as peças, o carro não sai da oficina”, diz.