Aos olhos da filha de santo Mariane Lopes, o terreiro de axé é mais do que as coisas que ficam no imaginário de quem faz questão de expor o preconceito religioso disfarçado de opinião. Ali, ela compartilha momentos da vida com os irmãos de fé. Na lente da sua câmera, as polêmicas macumbas ganharam protagonismo e a palavra Ifé (amor) pôde ser traduzida. Danças, velas, oferendas, guias e a própria palavra “pai de santo” são imagens já atribuídas às religiões de matrizes africanas, mas a vida em um terreiro de candomblé ainda é desconhecida e se constrói além dos rituais. A ideia de retratar o cotidiano ali surgiu quando Mariane conheceu a casa, mas a vontade bateu mais forte quando o local participou de um edital da Fundação Palmares e o vídeo produzido ganhou a competição. Inspirada por pessoas que fazem parte da rotina, as cenas da limpeza do axé e preparação dos banhos viraram documentário que leva o nome da casa Ilè Asé Efunsola Àjagúnà, localizada no bairro Seminário, em Campo Grande. O conteúdo será exibido no Campão Cultural. Segundo a produtora, o objetivo é tirar o foco dos grande rituais e mostrar que a coletividade, família e o amor são pilares da religião e fazem parte do dia a dia do axé. Tem muitos momentos importantes em uma casa de santo, mas eu aproveitei e quis narrar o viés da macumba, o que é macumba mesmo? É um ogã tocando atabaque, uma ekedy fazendo comida para orixá, limpando uma cozinha, um irmão fazendo um banho de folhas. Todas essas ações do cotidiano são meios de se fazer macumba. Antes mesmo de qualquer coisa somos uma família que busca evolução por meio do amor”. Mariane acha que o recorte é apenas uma pequena parte do que é a religião e a casa de santo. Entre os momentos retardados estão também a alimentação em grupo chamada de ajeum. É nessa ocasião que os filhos de santo falam sobre a vida, brincam e comentam sobre coisas banais, como preço dos produtos no mercado, por exemplo. “Somos uma família que vive candomblé para sí e muito além dos rituais. Tenho amor e respeito pela minha casa, meu pai de santo e meus irmãos. Aqui não se tem uma fala de perfeição não, somos o que somos e procuramos evolução por amor não pela dor ou culpa. O filme não trará nitidamente o que fazemos ou como somos mas alguns momentos”. Encantamento Mariane usa a palavra beleza para descrever a relação com o candomblé e explica que estar no caminho é evolutivo, grandioso e bom para quem se propõe a viver a ancestralidade e todo o simbolismo dentro de um ilê. Além disso, ela pontua que o espaço é mais que um lugar de crença pois também significa resistir. “É um caminho bonito e muito evolutivo. Ter uma casa de candomblé em pé é a mesma reparação que se ter um quilombo em pé. Que as narrativas não sejam apagadas, que os territórios afrodiasporacos [pessoas que descendem de africanos que foram forçados a migrar para outros países] permaneçam de pé em nosso país e no Mato Grosso do Sul”. A produtora, que se classifica como multiartista, se enxerga como uma contadora de histórias e se posiciona como uma narradora de tradições. Ela acrescenta que o filme será exibido no dia 04 às 18h no MIS (Museu da Imagem e Som), no terceiro andar do prédio da Fundação de Cultura, localizada na Avenida. Fernando Corrêa da Costa. O documentário está presente na programação por meio do Pantanal Film Fest, novidade desta edição. Na ficha técnica nomes como Lua Maria, Ana Karolinna, Juliana Benetiz, Caique Bonfietti Martins, Henrique Luiz e Gabrielly Sorti compõe a produção. Acompanhe o Lado B no Instagram @ladobcgoficial , Facebook e Twitter . Tem pauta para sugerir? Mande nas redes sociais ou no Direto das Ruas através do WhatsApp (67) 99669-9563 (chame aqui) . Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para entrar na lista VIP do Campo Grande News .