A própria UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) reconhece que os baixos salários oferecidos pelas universidades federais têm dificultado a contratação e a permanência de médicos no quadro docente. A afirmação foi dada em resposta ao protesto feito por alunos do curso de Medicina do campus de Três Lagoas, que denunciam o sucateamento da formação e a falta de professores especializados. “Os baixos salários são o motivo da baixa fixação de médicos nas universidades federais brasileiras e a UFMS tem aberto constantemente novos concursos para professores efetivos e substitutos”, informou a universidade em nota. A instituição ainda destacou que o curso é nota máxima no MEC (Ministério da Educação) e que, neste ano, implantou o primeiro programa de residência médica do município. Apesar da tentativa de resposta, os estudantes relatam uma realidade de desamparo e ensino comprometido. Na noite da última terça-feira (20), cerca de 40 alunos se manifestaram dentro da universidade para cobrar providências. O Centro Acadêmico de Medicina Dercir Pedro de Oliveira divulgou posicionamento em que demonstra preocupação com o que chamou de “sucateamento” do curso. “A formação médica exige excelência, compromisso e estrutura adequada, e a ausência de docentes capacitados compromete gravemente a qualidade do ensino, a segurança dos estudantes e, consequentemente, a assistência à população no futuro. Não é apenas um problema acadêmico, mas também um risco à saúde pública”, diz o texto. Milena Lima, aluna do 7º semestre, contou que a manifestação foi a resposta a um problema antigo. “Ontem foi só a gota d’água de um problema que estamos tendo há anos. Não conseguimos ter uma aula e decidimos que não dava mais pra aceitar. Passar em Medicina já é um grande desafio, e agora o sentimento é totalmente de desamparo”, afirmou. Após o protesto, os alunos redigiram um documento entregue à coordenação do curso. Entre as principais queixas, está a falta de professores capacitados para lecionar disciplinas especializadas. Eles relatam que matérias como Neurologia, Gastroenterologia e Reumatologia não estão sendo ministradas de forma completa. Em Neurologia, por exemplo, não há professor há três anos, segundo os alunos. Isso afeta diretamente o aprendizado de temas fundamentais, como o tratamento de AVC (Acidente Vascular Cerebral). Outro ponto é a Clínica Escola, que deveria ser usada para ampliar a prática médica e suprir deficiências na formação. As obras foram autorizadas pela reitoria no antigo campus, mas mesmo após a reforma, o local segue sem funcionar. A paralisação é atribuída à falta de mobiliário, o que levou os próprios alunos a organizarem vaquinhas para comprar macas e escadas. Mesmo equipada, a clínica está inativa há quase três anos. Os estudantes também denunciam a falta de salas de aula, desorganização nos horários e realocações frequentes para espaços inadequados. Além disso, o Restaurante Universitário está fechado, sem previsão de reabertura, e não há assistência alimentar para grande parte dos alunos. Problemas estruturais também estariam comprometendo o funcionamento do curso: o ar-condicionado do laboratório de anatomia está quebrado, e um elevador inoperante há mais de um ano obriga uma aluna com mobilidade reduzida a assistir às aulas apenas no térreo, junto com toda a turma. Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais .