Nesta sexta-feira (21), Mato Grosso do Sul dá um passo importante na inclusão e na proteção infantil com o lançamento do livro “Ñande Rete, Ñande Róga – Estrelas na Cabana”. A obra sobre prevenção à violência infantil será disponibilizada em Guarani-Kaiowá, atendendo à realidade de milhares de crianças indígenas do estado. Escrito por Viviane Vaz e Débora Amaro, com tradução de Uilian Sanches Martins Benites e ilustrações de Wanick Correa, o livro faz parte de uma iniciativa do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJMS) e tem o objetivo de fortalecer a proteção da infância por meio da literatura. Mais do que um conto, a obra funciona como uma ferramenta de identificação e acolhimento para crianças que podem estar vivendo situações de abuso ou outras formas de violência. “O livro protege a inocência da criança. Quem nunca passou por abuso vai enxergar apenas uma história lúdica. Mas aquelas que sofreram algum tipo de violência podem se reconhecer na narrativa e entender que aquilo não é normal, que elas podem e devem pedir ajuda”, explica Viviane Vaz, uma das autoras e coordenadora do projeto. Um projeto de impacto para uma realidade alarmante -Mato Grosso do Sul tem uma das maiores populações indígenas do Brasil, com diversas comunidades espalhadas pelo estado. Entre elas, os Guarani-Kaiowá formam um dos maiores grupos, e muitas crianças indígenas vivem em áreas rurais, distantes dos centros urbanos e do acesso imediato à informação e aos serviços de proteção. O estado também enfrenta índices preocupantes de abuso infantil. A violência sexual contra crianças e adolescentes é uma realidade silenciosa, mas persistente, especialmente em comunidades onde a denúncia pode ser ainda mais difícil. Diante disso, a proposta do livro surgiu como um reforço essencial na conscientização e na prevenção. O projeto Estrelas na Cabana começou a ser aplicado em Mato Grosso do Sul em 2021, chegando a diversas comarcas do Estado e capacitando educadores e profissionais da rede de proteção à infância. Durante esse percurso, surgiu a necessidade de expandir o alcance da obra para crianças indígenas, respeitando sua cultura e identidade. “A Secretaria de Educação de Amambai abraçou essa possibilidade e conseguimos traduzir o livro para o Guarani-Kaiowá. Fizemos não apenas a tradução, mas também uma adaptação cultural, trocando personagens e cenários para que as crianças indígenas realmente se vissem na história”, detalha Viviane. Adaptação cultural: a história que fala a língua das crianças – Mais do que traduzir as palavras, o desafio era garantir que o livro dialogasse com a realidade das crianças indígenas. Isso incluiu alterações em personagens, cenários e elementos da narrativa para torná-los mais próximos da cultura Guarani-Kaiowá. “O personagem inicial do livro era um panda, mas entendemos que era necessário um elemento mais afetivo para as crianças indígenas. Então, substituímos por um gato, um animal que faz parte do dia a dia delas. Também mantivemos o protagonista como um menino, para mostrar que o abuso pode acontecer com qualquer criança, independentemente do gênero ou da cultura”, explica Viviane. Outro cuidado foi adaptar o ambiente da história. “As brincadeiras, os costumes, o jeito de se relacionar… Tudo isso foi revisado para que a criança se reconheça na narrativa. É um trabalho que vai além da tradução, é sobre representatividade e pertencimento”, afirma. A ilustração também desempenhou um papel fundamental nesse processo. O ilustrador Wanick Correa teve o desafio de captar a essência da cultura indígena e representá-la de forma respeitosa e sensível. O resultado são imagens que não apenas complementam o texto, mas também ampliam sua capacidade de comunicação, principalmente para crianças que ainda não sabem ler. A versão bilíngue do livro será aplicada em escolas indígenas e comunidades do estado, além de integrar capacitações para educadores e profissionais da rede de proteção à infância. A expectativa é que ele se torne um instrumento de empoderamento para crianças que, muitas vezes, não sabem como verbalizar situações de abuso. “Independente da cultura, o abuso não é aceitável. A violência não faz parte da tradição de nenhum povo. O amor e o afeto são linguagens universais, e essa história traduz exatamente isso: uma mensagem de cuidado, proteção e esperança”, enfatiza Viviane. Acompanhe o Lado B no Instagram @ladobcgoficial , Facebook e Twitter . Tem pauta para sugerir? Mande nas redes sociais ou no Direto das Ruas através do WhatsApp (67) 99669-9563 (chame aqui) . Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para entrar na lista VIP do Campo Grande News .
Narrativa adaptada à cultura indígena ajuda a identificar violência infantil
