Em um novo estudo publicado no Journal of Zoology, pesquisadores revelaram um comportamento surpreendente dos tamanduás-mirins no Pantanal. Essas criaturas de cauda preênsil, conhecidas por se locomoverem habilidosamente entre os galhos, encontraram um aliado inesperado: o tatu-canastra. Sim, os tamanduás-mirins estão usando as tocas escavadas pelos tatus-canastra, não só como abrigo, mas também como um ponto estratégico para garantir sua sobrevivência em um ambiente desafiador. A pesquisa inédita, realizada em parceria entre o Instituto de Conservação de Animais Silvestres (ICAS) e a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), monitorou os tamanduás-mirins por mais de 10 anos. E o que os cientistas descobriram foi fascinante: os tamanduás-mirins não apenas descansam dentro das tocas de tatu-canastra, mas as utilizam como refúgios essenciais para se proteger do calor extremo e da variação de temperatura do Pantanal. Essas tocas subterrâneas podem chegar a impressionantes 5 metros de comprimento e 1,5 metro de profundidade, proporcionando uma temperatura mais estável que o ambiente externo. Quando as temperaturas no Pantanal podem alcançar extremos abrasadores, as tocas oferecem um alívio necessário. Os tamanduás-mirins, conhecidos por suas habilidades em se movimentar pelas árvores, aparentemente preferem descansar sob a terra para preservar energia e manter uma temperatura corporal mais estável durante os períodos de calor intenso. Os cientistas observaram que, em algumas situações, os tamanduás-mirins permaneciam até 22 horas nas tocas. Com suas caudas adaptadas para agarrar objetos e se movimentar com destreza, por que, então, optam por se esconder no subterrâneo? A resposta parece estar na necessidade de adaptação ao ambiente hostil do Pantanal. “Essas tocas são vitais, principalmente em um ambiente tão desafiador. Elas ajudam os tamanduás-mirins a sobreviver e se manter confortáveis no calor intenso”, explica Mateus Yan, autor principal do estudo. Mas há mais! Além do conforto térmico, as tocas de tatu-canastra podem também ser uma fonte de alimento. Os tamanduás-mirins, que se alimentam de formigas e cupins, podem estar aproveitando o acesso a essas fontes de alimento que se escondem nas cavidades subterrâneas. Registros de vídeo mostraram os animais cheirando e arranhando as entradas das tocas, como se estivessem em busca de uma refeição. O estudo revela, então, que as tocas de tatu-canastra são um verdadeiro “supermercado” natural, com os tamanduás-mirins explorando esses abrigos não só para descanso, mas possivelmente para caçar. O comportamento foi registrado em várias visitas a esses locais, sugerindo que a relação entre as duas espécies vai muito além da simples convivência em um ecossistema compartilhado. Os engenheiros – Os tatus-canastra, conhecidos por sua habilidade de escavar tocas impressionantes, têm um papel ecológico vital. Essas tocas não são apenas utilizadas por tamanduás-mirins, mas também por mais de 100 espécies de vertebrados e 300 espécies de invertebrados, que dependem delas para abrigo e alimentação. Arnaud Desbiez, presidente do ICAS e coautor do estudo, destaca a importância de preservar o tatu-canastra. “Esses animais são engenheiros do ecossistema, criando abrigos que beneficiam diversas espécies. A proteção do tatu-canastra é fundamental para a preservação do equilíbrio ecológico do Pantanal”, afirma Desbiez. No entanto, a degradação ambiental e a perda de habitat têm impactado negativamente a população de tatus-canastra. A extinção desses animais poderia afetar gravemente muitas outras espécies que dependem das suas tocas, tornando urgente a necessidade de preservação. Monitoramento – O estudo realizado no Pantanal, entre Corumbá e Aquidauana (MS), conta com o apoio do Projeto Tatu-Canastra e financiamento de diversas instituições, como a CAPES. A pesquisa também destaca o esforço contínuo para monitorar e entender o comportamento dessa espécie-chave e como ela ajuda a manter o ecossistema do Pantanal saudável e equilibrado. Com a ajuda de armadilhas fotográficas e outros métodos de monitoramento, os pesquisadores estão expandindo o conhecimento sobre o tatu-canastra e o papel vital que ele desempenha no ecossistema. O estudo serve não apenas para valorizar a importância dessa espécie, mas também para reforçar a necessidade urgente de sua conservação. Confira a galeria de imagens registradas no Pantanal. Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais .
Cientistas descobrem refúgio até então secreto dos tamanduás-mirins no Pantanal
