Na pacata Inocência, onde lojas e até órgãos públicos têm fachadas discretas, um tipo de atividade chama atenção pelos letreiros e imagens. São as boates que surgem pela cidade e, principalmente, no Núcleo Industrial, bairro a 2 quilômetros do Centro. Nada discretos, os imóveis são pintados de rosa-choque, com fotos ou desenhos de mulheres em poses sensuais. A chegada de tantas casas para lazer de adultos é vista pela população – ainda mais acostumada com a cidade tranquila que era Inocência antes do começo da construção da fábrica de celulose da Arauco, que trouxe milhares de trabalhadores, – como um “mal necessário”. Na cidade, corre de boca em boca que quase 30 boates já pediram alvará de funcionamento ao poder público, o que, claramente, deixa as mulheres mais incomodadas ao falarem sobre a situação, enquanto os homens se mostram bem animados. Na hora de fechar contrato de aluguel de casa, há quem já deixe expresso no documento a proibição de que o seu imóvel vire uma boate. Seguindo o dinheiro da rota da celulose, os prostíbulos migraram de Ribas do Rio Pardo, que em 2021 viveu boom com a construção da fábrica de celulose da Suzano, para Inocência. Após investimento de quase R$ 150 mil no novo endereço, Izabela Sales, 23 anos, proprietária do Iza Drinks, ainda espera que a mudança traga mais lucros. “A minha primeira boate foi em Brodowski, interior de São Paulo. Depois, fui para Ribas e agora vim para cá. Primeiro, meu intuito era ir para Água Clara ou Paranaíba. Mas acabamos vindo para cá. Em relação a Ribas, isso aqui está uma tristeza”, diz Izabela. O comparativo é quando Ribas estava cheia de funcionários para a construção da fábrica. Pois, desde agosto de 2024 o movimento caiu e a boate migrou para Inocência, sendo inaugurada em 7 de dezembro do ano passado. “A gente teve que começar do zero e o investimento foi muito alto. E estamos até hoje investindo e pagando, porque a obra ainda não terminou”. De terça a sexta, a boate abre às 18h. Aos fins de semana o horário é ampliado, com funcionamento a partir das 14h. A programação inclui noites temáticas, principalmente após o dia de pagamento dos trabalhadores. “A gente inventa festa. A cada pagamento a gente inventa alguma coisa. Também panfletamos para chamar a atenção do público. Mas já tem muita boate na cidade. A grande maioria veio de Ribas”, conta Izabela. Os custos inflacionados da cidade também pressionam o estabelecimento, que gasta com aluguel e bebidas. “Eu fico indignadíssima com o preço das coisas. Aqui é três vezes pior do que Ribas. E olha que lá era muito caro. Se for aluguel para moradia, você acha casa de R$ 5 mil. Agora, para boate, o mínimo que você acha é R$ 8 mil por uma casinha. Isso quando acha”. A boate abriu as portas com 13 profissionais do sexo, depois o número baixou para 11. As trabalhadoras são da Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Paraná, Campo Grande, Três Lagoas. Inocência tinha 8.400 habitantes, contando a população da área rural. Oficialmente, a prefeitura informa que atualmente são 8.500 habitantes, mas o cálculo informal é que já são 13 mil pessoas na cidade. A administração prevê que, nos próximos três anos, sejam 32 mil pessoas. Depois, a cidade deve se estabilizar com 19 mil habitantes. Tida como a mais antiga do mundo, a profissão de prostituta só foi reconhecida em 2002, recebendo o número 5.198 na CBO (Classificação Brasileira de Ocupações), do Ministério do Trabalho e Emprego. Porém, não é regulamentada. Prostituição também não é crime. Mas, para não se enquadrar em rufianismo, as boates recorrem ao bar e aluguel do espaço. De acordo com o Código Penal, rufianismo é tirar proveito da prostituição alheia, participando diretamente de seus lucros ou fazendo-se sustentar. Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais .
Prostituição segue dinheiro da celulose e migra de Ribas para a pacata Inocência
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