A Inocência com “lotação máxima”, resultado da diversificação da economia, principalmente com uma fábrica de celulose, traz espanto para o representante comercial Gildevan Feliciano do Prado, 61 anos, pela velocidade das mudanças. Ele faz parte do grupo de moradores que viu do carro de boi à chegada do primeiro semáforo. Gildevan nasceu na zona rural, na fazenda Olho D’água, que era do avô. Depois, a família se mudou para um sítio, mais perto da cidade, cuja fonte de renda era a venda de queijos. Nessa infância no campo, se lembra do carro de boi, onde, menino, seguia à frente dos animais. Desse tempo, deixa em exposição na loja as cangas (peça de madeira encaixada sobre a cabeça dos bois) e berrante. Em 1970, tinha poucas casas e os poucos carros atolavam na areia. O tempo passou depressa. A gente acreditava que fosse acontecer o crescimento, mas não nessa velocidade. É tudo muito rápido, a população vai dobrar várias vezes. Tudo tem fila e a gente não estava acostumado com isso. Hoje, você não acha estacionamento”, diz Gildevan. O trânsito na área central retrata que tem muita gente circulando pela cidade. Por enquanto, só há um cruzamento semaforizado, no encontro da Manoel Ferreira de Lima com a Alexandre Batista Garcia. “No semáforo, não consegue passar se tiver dois, três caminhões, que são lentos. Tem ruas que vão ter que virar mão única. Porque se para um ônibus ou caminhão, já não passam dois carros”, conta o representante comercial. Ele também vê a retração da pecuária, que por anos reinou no município. “Toda vida era boi, tinha mais de 1 milhão de bovinos, mas entrou floresta, seringueira. Ficou bem menor o volume. Diminuiu o gado, mas o setor ficou mais profissional. Evoluiu em termos de tecnologia, renovação de pastagem, nutrição e genética. Alguns já estão tocando a pastagem como lavoura, como se fosse uma plantação. É os que estão sobrando no mercado”, diz Gildevan, que também é gestor ambiental. O pessoal da terra Descendente dos mineiros que foram adentrando ao então Mato Grosso e fundaram um povoado às margens do Rio Bocaina, onde hoje é Inocência, Osmar Garcia Pereira, 60 anos, conta que num raio de 20 quilômetros da área urbana predominam as pequenas propriedades. Depois, vêm as fazendas com milhares de hectares. “Várias trocaram o gado pelo eucalipto. Hoje, funcionário ficou muito difícil. Com as empresas, eles estão migrando para a cidade”. Já o gado foi vendido ou levado pelos fazendeiros para propriedade nos municípios vizinhos que ainda não têm eucalipto. O aluguel para o cultivo da monocultura é a opção mais comum, principalmente pelos proprietários de fazenda em Inocência, mas que moram em São Paulo. O pessoal da terra, caso de Osmar, mantém o gado no pasto, da raça nelore. A região também tem atraído plantio de amendoim e laranja. O primeiro já é colhido, enquanto que o laranjal foi plantado há 40 dias. “O crescimento é bom? É bom para a cidade. Mas em termos. Nós raízes daqui vemos pontos negativo. Aquela tranquilidade acabou, acabou a paz. Na sua casa, já tem que fazer um muro de três metros de altura. Já está tendo muita briga. A gente está tentando controlar”, diz Osmar. Ele é presidente do Sindicato Patronal de Inocência e participa do comitê gestor da cidade. A família de Osmar chegou à região de Inocência em 1925. “Meus avôs vieram de Minas Gerais, de Ituiutaba. Na época, aqui na região, tinha o coronel Azambuja, e o pessoal se instalava na propriedade dele. E ali, ele cedia área nas margens do rio para as pessoas fazer um ranchinho. Meu avô veio a cavalo, de bote, descendo o rio e chegou aqui. Ele e o irmão fizeram um ranchinho. Depois, voltaram para Minas Gerais e trouxeram a mãe e mais duas irmãs. Tocavam roça de arroz, milho. Uma vez por mês ele ia à sede e ganhava um litro de mês”, rememora. Ao longo dos anos, a família recebeu autorização para criar gado. “Meu avô foi comprando uns boizinhos, vacas. Juntou um lote de gado e comprou uma propriedade. Em 1931, meu avô casou. Minha avó conheceu ele na hora do casamento, porque na época era assim, era prometida”, conta Osmar. Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais .
Do carro de boi ao 1º semáforo: histórias de quem mora em Inocência a vida toda
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