“Faça o amor, não faça a guerra”. Esse era o grito dos hippies dos anos setenta, época da Guerra do Vietnã. Mas essa não era uma ideia original. Surgiu milênios antes. Sua autora foi Safo, a mulher mais famosa da Antiguidade, que por viver na ilha de Lesbos, na Grécia, deu origem à palavra “lésbica”. Ainda que razoavelmente conhecida em nossos tempos, quem foi Safo? Safo, a rebelde com causa. Para as mulheres da antiga Grécia, que não tinham influência alguma na vida publica, viviam trancadas em seus lares, estava claro que não poderiam expressar seus pensamentos. A quase totalidade delas se resignou a essa situação sem opor resistência. Mas não foi o caso de Safo. Ao redor do ano 603 antes de Cristo, na bela ilha de Lesbos, decidiu com certa megalomania que as coisas seriam diferentes para ela e para todas que a ouvissem. Safo dizia a suas alunas “asseguro que alguém se recordará de nós”. E acertou. Poucos nomes femininos da história estão tão presentes em nossa vida cotidiana como o dela. Algumas mulheres são denominadas “lésbicas” por causa dela. Não se esqueçam da palavra “safada”. Nove livros. Apesar de que se sabe pouco dela e só sobreviveram algumas de suas canções para serem cantadas com o auxilio de uma lira – um tipo de harpa -, se acredita que sua obra inteira ocupava nada menos de nove livros. Foram queimados no século III a.C. no incêndio da biblioteca de Alexandria. Já na Idade Média, o que restou, foi destruído pelos padres, que os consideravam indecentes. E são mesmo. Uma magnifica indecência. Mas o mais disparatado foi como conseguiram encontrar seu escritos. Os egípcios utilizaram papiros com sua obra para preencher crocodilos mortos que, ao final, viravam presentes. O pensamento das mulheres foi tratado de maneira muito estranha ao longo do temo. Mas esse é campeão da esquisitice. Safo luta contra Homero? Safo viveu cem anos depois do maior poeta grego. Ainda com essa diferença de tempo, muitos pensam que se tivéssemos todos os escritos sáficos, talvez não daríamos a importância atual a Homero. O que ela escreveu é um contraponto à epopeia heroica, e bastante carregada de testosterona, da “Odisseia”. À erudita Safo pouco interessava os cavalos, os soldados e as naus de guerra. O que lhe intrigava eram as circunstâncias que haviam levado a bela Helena a abandonar seu lar, e seu marido, por amor. Os homens, naquela época, escreviam sobre as guerras, Safo escrevia sobre o amor. Alguém já disse que Safo foi uma hippie precoce. Predicava uma versão mais poética do “Faça o amor, não faça a guerra”. Safo era lésbica? Centenas de mulheres de todos os países do Mediterrâneo acorreram a Lesbos para receberem os ensinamentos de Safo. Uma de suas lições eram pra lá de original: dizia que as mulheres sentem desejo sexual e que não tinham problema algum em expressá-lo. Há uma poesia, belíssima, onde ela mostra que explorava o corpo com audácia. Mas ninguém sabe se ela era realmente homossexual. A maior especulação, todavia, é que ela suicidou-se, lançando-se ao mar, por um jovem pescador. O que é seguro é que manteve uma estreita relação com algumas de suas alunas e que sofria muito quando elas voltavam para suas casas. Mas não se sabe se havia sexo nessas relações. Elas eram moças ricas que aprendiam com Safo dança, música, poesia e, acreditem: como se comportar. Era uma escola exclusivamente feminina em um país que enclausurava todas elas.