Entre maio de 2023 e abril do ano passado, 2.300 animais foram atropelados em trecho de 350 km da BR-262, que liga Campo Grande à ponte do Rio Paraguai, nos biomas Cerrado e Pantanal. Os dados, coletados pelo Projeto Bandeiras e Rodovias, do ICAS (Instituto de Conservação de Animais Silvestres), reforçam a realidade vista pelo Campo Grande News no trajeto até Corumbá. O instituto revelou que espécies como tatus, anfíbios, jacarés e cachorros-do-mato estão entre as vítimas mais frequentes. Além disso, desde 2016, ao menos 20 onças-pintadas morreram em colisões veiculares no trecho entre Corumbá e Miranda, segundo levantamento do IHP (Instituto Homem Pantaneiro). A BR-262, que corta os estados do Espírito Santo, Minas Gerais, São Paulo e Mato Grosso do Sul, é uma das maiores rodovias do país, com mais de 2 mil quilômetros de extensão. Dados do ICAS mostram que, entre 2017 e 2020, 6.650 animais foram mortos em 339 km desse trecho, incluindo 316 espécies ameaçadas de extinção, como tamanduá-bandeira, anta e lobo-guará. Os atropelamentos são mais frequentes durante a estação chuvosa, quando animais deixam áreas alagadas em busca de alimento e acabam cruzando a rodovia. Pesquisadores apontam que 80% dos acidentes ocorrem à noite, e 40% envolvem animais grandes o suficiente para causar danos materiais aos veículos, aumentando também o risco para os motoristas. Em novembro de 2024, o DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) aprovou Plano de Mitigação de Atropelamentos de Fauna, que prevê instalação de cercamentos e passagens seguras para animais. No entanto, ainda não há previsão para a implementação dessas medidas. Organizações como o ICAS, o IHP, o Onçafari, o Instituto Libio, o Instituto SOS Pantanal e a INCAB (Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira) criaram o “Observatório Rodovias Seguras para Todos”, que visa monitorar a implementação de medidas de mitigação em rodovias estaduais e federais de Mato Grosso do Sul, incluindo as BR-262, BR-163, BR-267, MS-040 e MS-267, além das vias no entorno de Bonito. Também é dito pelas organizações que o observatório acompanhará os impactos da Rota Bioceânica e de novas concessões rodoviárias. O diretor da ONG (Organização Não Governamental) Ecoa (Ecologia e Ação), André Siqueira, explica que a BR-262 tem tido problemas gerados pelo intenso tráfego de carretas bitrem, que transportam minério bruto a velocidades elevadas. “Além de vender o minério bruto e barato, que a gente não processa, a gente ainda paga toda a manutenção da BR anualmente”, critica, dizendo que as carretas andam a cerca de 120 km/h, não mais como no passado, que circulavam a cerca de 70 ou 60 km/h. Segundo ele, a via corta região de planície com alta incidência de animais silvestres, o que resulta em um número “absurdo” de atropelamentos e que é preciso respeitar horários de trabalho dos caminhoneiros e ampliar a sinalização. Ele também cita a ausência de investimentos em passagens de fauna, solução já adotada em outros países. “Se você for a Corumbá, você vê inclusive uns cercados, aquilo foi uma das tentativas que foram feitas, mas você vê que não tem manutenção.”