Olha, vou ser sincero: a indústria de games anda meio repetitiva. Todo mês é um novo Soulslike, um novo roguelike e alguma tentativa frustrada de ser o próximo GTA VI. Mas aí vem Citizen Sleeper 2: Starward Vector e me lembra que, às vezes, tudo que a gente precisa é um RPG narrativo com dados, moralidade cinza e uma nave caindo aos pedaços para explorar um universo decadente.
Desenvolvido pela Jump Over The Age, essa sequência pega tudo que fez o primeiro Citizen Sleeper ser um indie cult e multiplica por dez – mais liberdade, mais decisões de vida ou morte e, claro, mais dilemas existenciais que fariam até um robô entrar em crise. Então, se você curtiu Disco Elysium, The Expanse e a ideia de roleplay no espaço sem precisar memorizar 400 páginas de um manual de D&D, se liga nessa análise.
A história – Você é um peão, mas acha que é um rei
A premissa é simples: você é um Sleeper, um clone sintético de um humano com a mente presa num corpo cibernético, criado para ser descartável por corporações que controlam o universo com a delicadeza de um mafioso cobrando uma dívida. Só que, claro, você resolveu que não estava afim de ser propriedade de ninguém e escapou para o Cinturão Starward, um conjunto de estações espaciais, planetas abandonados e todo tipo de escória tentando sobreviver à beira do colapso econômico intergaláctico.
Se no primeiro jogo você ficava preso em uma única estação, agora você tem sua própria nave – e uma tripulação para gerenciar. Mas calma, não pense que vai sair por aí sendo o Han Solo da quebrada. Sua nave parece que foi montada com peças de sucata e o combustível custa mais caro que um lanche no aeroporto. Cada decisão importa, cada erro custa caro e, se bobear, você vira comida de verme espacial antes do segundo ciclo.
A narrativa é carregada de escolhas morais: você pode ser um sobrevivente frio que faz o necessário para continuar vivo, ou um idealista tentando consertar um mundo que já foi para o ralo há muito tempo. Mas cuidado: nesse universo, ser bonzinho demais pode fazer de você um alvo.
Jogabilidade – Quando seu destino depende de rolar os dados e saber fazer planilhas
Se você esperava ação frenética, sinto informar: aqui o combate é contra a vida. O jogo é um RPG narrativo com mecânicas baseadas em dados, então cada decisão que você toma é resolvida com rolagens aleatórias, tipo um D&D futurista onde o mestre quer muito ferrar o seu personagem.
Seu dia a dia envolve gerenciar recursos, interagir com NPCs suspeitos, aceitar contratos e rezar para que sua nave não exploda no meio de uma missão. A mecânica lembra Disco Elysium, onde as rolagens de dados podem decidir se você convence alguém a te ajudar ou se você vai acabar dormindo num beco (ou no caso, num compartimento de carga vazio).
Só que, diferente do primeiro jogo, aqui você tem uma tripulação. Sim, agora é preciso contratar gente para cuidar da nave, negociar contratos e, se possível, garantir que ninguém te apunhale pelas costas. E como toda boa história sci-fi, não existe ninguém realmente confiável nesse universo. Um mercenário pode ser útil num tiroteio, mas pode te vender para uma corporação por um punhado de créditos. E um engenheiro pode consertar sua nave, mas pode também roubar peças e sumir na próxima parada.
Cada decisão que você toma altera a forma como o universo reage a você. Fez um trabalho sujo para um mafioso espacial? Espere consequências. Tentou enganar um cliente? Ele pode ter amigos bem armados. Tudo é um grande jogo de xadrez cósmico onde seu único peão é você mesmo.
Atmosfera e Comparações: Firefly, The Expanse e um Cyberpunk sem neon barato
A ambientação de Citizen Sleeper 2 é um colírio para quem curte sci-fi de verdade. Nada de impérios galácticos glamorosos ou alienígenas fofinhos. Aqui, o espaço é sujo, perigoso e cheio de gente desesperada tentando sobreviver. É uma mistura de Blade Runner com Firefly, onde todo mundo tem um plano e ninguém realmente se importa com o bem maior – só com os próprios interesses.
Se no primeiro jogo ficávamos presos a um único lugar, agora a exploração é muito mais aberta. O Cinturão Starward tem estações industriais decadentes, mercados clandestinos e zonas de conflito onde entrar sem um bom motivo pode significar nunca mais sair. Cada novo local tem suas próprias facções e dinâmicas políticas, e se você não souber como navegar entre esses grupos, pode acabar como mais um Sleeper descartado no espaço.
É um universo que lembra The Expanse, só que sem os mocinhos tentando salvar o dia. Aqui, todo mundo está ferrado, e sua melhor aposta é tentar se ferrar um pouco menos que os outros.
Prós e Contras
Prós:
- Narrativa absurdamente bem escrita – Se você curtiu Disco Elysium, vai amar esse jogo. O texto é afiado, cheio de nuances e com aquele tom cínico que deixa tudo mais interessante.
- Sistema de escolhas brutal – Cada decisão tem peso real e pode mudar completamente o rumo da história. Não existem “decisões boas ou ruins”, só o menor de dois males.
- Mundo vivo e dinâmico – Nada aqui é fixo. Personagens podem morrer, facções podem mudar e até mesmo sua nave pode virar um monte de sucata se você não for cuidadoso.
- A trilha sonora é uma experiência à parte – Um synthwave melancólico que combina perfeitamente com a vibe decadente do jogo.
Contras:
- Curva de aprendizado não perdoa – Se você não gosta de ler textos longos e planejar cada passo, talvez esse jogo não seja para você.
- Sistema de rolagem de dados pode frustrar – Se você tem azar, pode acabar falhando miseravelmente em ações cruciais – e aqui não tem “tentar de novo”.
- Falta de ação direta pode afastar alguns jogadores – Não espere tiroteios cinematográficos. O combate aqui é mais sobre estratégia do que reflexos.
Nota Final: 8/10
Se você gosta de Disco Elysium, The Expanse e Firefly, Citizen Sleeper 2: Starward Vector é obrigatório. A escrita é brilhante, a ambientação é fascinante e o sistema de escolhas cria uma experiência emergente que poucos jogos conseguem alcançar. Mas vou ser sincero: esse jogo não é para qualquer um. Se você quer ação frenética ou um jogo que te leve pela mão, vai se frustrar. Agora, se você curte narrativas profundas, dilemas morais e aquele sentimento constante de “qualquer decisão pode dar ruim”, então parabéns: você acaba de encontrar seu novo vício. Prepare-se para filosofar sobre o espaço enquanto rola dados e tenta não morrer.
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