A fronteira de Corumbá com Puerto Suárez é um dos principais eixos do comércio exterior do Brasil com a Bolívia e outros países da América do Sul, sustentando o maior fluxo de cargas da região Centro-Oeste. No ano passado, movimentou US$ 1,6 bilhão e um volume de 1,2 milhão de toneladas de produtos diversos. No entanto, é uma das rotas bioceânicas mais frágeis em infraestrutura logística por falta de investimentos bilaterais. Uma ponte velha, estreita e já apresentando inclinações, construída há mais de 50 anos, e uma rodovia (final da BR-262, que começa no Espírito Santo) de apenas duas pistas mal conservadas e sem acostamento, são os principais gargalos de um transporte vital para a balança comercial do Brasil e de Mato Grosso do Sul (que cresce 27% ao ano), à beira do colapso. Apesar da gravidade e fragilidade operacional, não existe projeto para remodelar a atual estrutura. “Se fala em outras alternativas de escoamento, enquanto temos uma rota pronta e operando efetivamente, mesmo com dificuldades, até os portos do Peru”, afirma Lourival Junior, presidente do Sindicato das Empresas de Transporte e Logística do Pantanal (Setlog). “Os governos e nossas autoridades têm pleno conhecimento do drama que vivenciamos aqui, porém somos marginalizados. As soluções não exigem grandes investimentos”, aponta. Disparidade – O movimento ao lado do Posto Esdras, a aduana brasileira localizada a 100m da fronteira, é intenso a qualquer hora do dia. O fluxo diário de veículos é impressionante: são quatro mil carretas e dois mil carros de porte pequeno e médio. Em 2024, dados da Receia Federal registram 50 mil caminhões cruzando a linha imaginária (um córrego tomado pelo mato e lixo, reflexo do abandono da região). Sem contar milhares de pessoas circulando entre os veículos. Os números demonstram o papel estratégico da fronteira seca com a Bolívia para o comércio exterior e a integração regional. “E vale ressaltar que esses dados não incluem a movimentação do modal ferroviário, o que amplia ainda mais a relevância do complexo aduaneiro”, observa Tatiane Laranjo Amadeu Suhogusoff, delegada adjunta da Receita Federal em Corumbá. “A limitação física da ponte não corresponde a dimensão e a importância deste fluxo comercial.” Esta disparidade entre o volume operacional e a capacidade da estrutura atual, que inclui um posto de fiscalização improvisado da Polícia Rodoviária Federal na BR-262, a 500m da fronteira, “apresenta um desafio real para a integração comercial entre os países do Mercosul, podendo impactar diretamente na competitividade e no potencial de crescimento deste importante eixo logístico”, reconhece a Receita Federal, em nota. Fluxo represado – Nos últimos anos, a rota vem registrando um equilíbrio entre os volumes de exportações e importações, com o aumento significativo de entrada de fertilizantes da Bolívia por Corumbá. No ano passado, as exportações atingiram 619 mil toneladas, enquanto as importações, 610 mil toneladas. Por via férrea, reflexo da precariedade e abandono do tronco sob controle da Rumo, o movimento de cargas reduziu 44%, em relação a 2023, e de veículos foi ínfimo: 2,2 mil. No acesso rodoviário, o entre e sai de carretas na frágil ponte de apenas duas pistas gera um transtorno e uma confusão no trânsito, obrigando a Receita Federal a controlar (e segurar) o fluxo há mais de cinco anos. A saída de carretas do porto seco (Agesa) para o vizinho país obedece ao horário entre 7h e 18h, enquanto a entrada, entre 6h e 16h. Os veículos vazios podem circular somente à noite entre o porto, distante 1,5 km da fronteira, e a aduana. Falta interesse – “As dificuldades de escoamento contínuo impactam no movimento do porto, no comércio entre Brasil e Bolívia e nos custos de transporte”, observa o empresário Edmar Fernando Cruz, diretor da Agesa (Armazéns Gerais Alfandegados de MS). Segundo ele, as limitações logísticas já são de conhecimento do governo e autoridades do setor. “É inadmissível essa situação, os governantes não querem enxergar um problema sério que afeta a economia de modo geral”, diz. Para o empresário, além de uma nova ponte compatível com o fluxo de cargas, com quatro pistas, é necessário a duplicação de um pequeno trecho (menos de 2 km) da BR-262, em direção à fronteira. “Fala-se muito em fomentar a nossa Rota Bioceânica, mas não resolvem problemas pontuais de fácil solução para tornar o comércio exterior ainda mais ativo”, reclama. “Ficamos impedidos de novos negócios, novas opções para exportadores e importadores.”