Aumento no preço do produto, promoções ou corte de gastos são algumas das diferentes alternativas que proprietários de pequenas empresas têm tomado devido à alta de juros, que já alcançou 13,25% neste ano. Diante deste cenário, cada empreendedor revela as estratégias e adaptações que fazem para manter o negócio de portas abertas, enquanto tentam não sair em prejuízo. No Bairro Jardim Parati, na Rua da Divisão, o comércio ocupa ambos os lados com variação de serviço e produto. Casas de bolo, padaria, barbearia, lanchonetes e lojas de roupas são algumas das opções encontradas pelos moradores. José Ferreira, de 56 anos, é proprietário de uma loja de xerox onde também são vendidos itens, como bolsas e cadernos. Há sete anos tocando o negócio, ele comenta que uma das medidas tomadas recentemente foi não renovar o estoque. “Nem compras fizemos depois dessa alta, mas antes de aumentar a taxa selic os preços já foram aumentando e dificultando”, afirma. Para evitar perder a freguesia, José diz que tenta ao máximo não aumentar o preço para os clientes, por exemplo, custa R$ 0,50 a cópia no estabelecimento. Esse preço poderia ter subido para R$ 0,75, porém ele ainda não fez esse reajuste. A alternativa não é rentável, mas o empreendedor explica que foi o jeito que encontrou. “Você compra mais caro, mas vende pelo mesmo preço. Se virar é tirar um pouco da gente para não estar repassando demais para os clientes e manter a clientela. Mas, o prejuízo maior é da gente mesmo porque a mercadoria que antes dava 80% hoje dá 60%, então você perde 20%”, pontua. Há 17 anos, Lúcia Maziero, de 58 anos, é proprietária de uma loja de roupas femininas no bairro. Nas quase duas décadas como empresária, ela precisou se reinventar mais de uma vez para sobreviver às mudanças de mercado e garantir a continuidade da operação. Uma estratégia que tem dado certo até com a alta dos juros são as promoções de até 50% de desconto. Lúcia comenta que campanhas de desconto chamam atenção e que as redes sociais também a auxiliam. “A gente teve que fazer mais promoção, mexer mais com a internet, fazer mais postagens. Você tem que girar a mercadoria, aí você vai renovando o estoque, trazendo mercadoria nova e isso é muito bom”, destaca. Falar de adaptações para quem acabou de iniciar o próprio negócio é ainda está nos primeiros meses é um desafio. Há cinco meses, Daiara Alencar Prado abriu uma esfiharia na Rua da Divisão que conta com negócios semelhantes no bairro. Diferente dos outros casos, a empreendedora não fez promoções ou segurou reajuste do produto, pois isso talvez não surtisse o efeito que procurava. Para não perder dinheiro, Daiara teve que alterar o valor da esfiha. “Aqui a gente precisou subir um pouco o preço do produto. Antes estava R$2,50 e agora a gente vai ter que subir para a partir de R$3,00”, diz. Segundo a 8ª edição da pesquisa Pulso dos Pequenos Negócios, divulgada pelo Sebrae em outubro de 2024, as principais dificuldades enfrentadas pelos pequenos negócios em Mato Grosso do Sul são o aumento de custos (40%) e a falta de clientes (25%). Nos últimos cinco anos, o número de pequenos negócios ativos no Estado cresceu quase 50%, passando de 196.848, em 2020, para 294.968 em 2024, segundo dados da Receita Federal. O ritmo de formalizações também se manteve em alta, registrando uma expansão de 22% no período. Em 2020, foram abertas 44.307 novas empresas desse porte, e o volume aumentou progressivamente, alcançando 54.448 em 2024. Em todos os anos analisados, o saldo entre aberturas e fechamentos foi positivo, no último ano, em 2024, foi de 24.674. Sustentabilidade do negócio – O aumento da Taxa Selic é um dos vários cenários que pequenos negócios devem estar preparados para enfrentar. Analista técnico do Sebrae, Carlos Henrique Oliveira traz uma série de dicas de como abrir e manter uma empresa. Ele faz uma alusão que o processo é como uma receita de bolo onde cada passo é importante para garantir o próximo e assim por diante. Carlos Henrique adverte que é necessário ter o planejamento em dia para lidar com clientes, fornecedores e o mercado como um todo. “É importante o empresário entender o propósito, o cenário e buscar uma adaptação. Antes de tomar uma decisão, ele precisa fazer um planejamento, entender o custo do produto, serviço […] se tem competitividade”, esclarece. Buscar parcerias, ser competitivo, sair da mesmice e saber separar contas pessoais das dos negócios são outras dicas que o analista fornece para quem está prestes a abrir uma pequena empresa. A parte financeira é uma das principais bases que o empresário precisa ter. “Ele tem que entender o custo dessa empresa, capital de giro e o ponto de equilíbrio dessa empresa”, cita. Outra estratégia pontuada por Carlos Henrique é a inovação, que é indispensável até para quem já se consolidou no setor. “Uma coisa muito bacana é inovação e é algo que não necessariamente é investimento em dinheiro. Pode ser uma melhoria de processo e para realmente ser válida tem que trazer retorno financeiro. Seja em economia ou aumento das vendas”, frisa. As soluções para lidar com momentos de instabilidade no negócio ou mudanças no cenário econômico como o aumento dos juros irão variar. “Para cada perfil, a gente tem várias soluções para entender esse momento do empresário. […] O desafio é entender como ele consegue se manter e ser competitivo nesse cenário”, completa. Em Mato Grosso do Sul, o Sebrae presta atendimento aos pequenos empresários que estão no início do processo de abertura de empresa ou que já abriram o próprio negócio. Mais informações estão disponíveis através do 0800 570 0800. Taxa selic – Na primeira reunião do ano, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central elevou os juros, saindo de 12,25% para 13,25% ao ano. A Taxa Selic está no maior nível desde setembro de 2023, quando também atingiu 13,25%. De maio a julho de 2024, chegou a 10,50% ao ano, depois começou a ser elevada em setembro. A Selic é o principal instrumento do Banco Central para manter o controle da inflação, que é medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo). Isso porque os juros mais altos encarecem o crédito e desestimulam a produção e o consumo. Em 2024, o IPCA acumulou alta de 4,83%. Em Campo Grande, o acúmulo ficou em 5,06%, mas se falar somente dos alimentos, o resultado é de alta de 11,3%, a maior do Brasil. Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais .