A ausência do celular em sala de aula e intervalo não é novidade para estudantes de dois colégios particulares de Campo Grande. Mas, com a sanção da lei federal que proíbe a partir deste ano, o uso do aparelho em instituições de ensino particulares e públicas, professores, alunos e pais não deixam de sentir os reflexos da mudança. A gerente do Sesc Escola Horto, Marlucy Cavalheiro Rodrigues, explica que na instituição os alunos do ensino fundamental e ensino médio são ensinados a não usarem o celular e incentivados a desenvolverem atividades lúdicas e a socialização. “O Sesc já tinha política de redução do uso de celular dentro de sala de aula. Nesse sentido, existem vários projetos não só na temática da saúde emocional, mas também em questões pedagógicas”, diz. No espaço, os alunos não são proibidos de levarem o celular, porém o mesmo se mantém guardado e desligado na mochila a todo momento. O regimento interno da escola sempre foi assim e agora que a Lei nº 15.100/2025 está em vigor, Marlucy destaca que o trabalho de conscientização ganhou o apoio de uma psicóloga que está auxiliando na orientação dos alunos e pais desde o início das aulas na quarta-feira (29). “A lei vem e vem para proporcionar ao aluno o melhor foco, trazer aspectos pedagógicos e uma questão emocional. Essa conscientização está sendo feita com os pais, trazendo a família para dentro da escola para conscientizar, informar e trazer reflexão”, afirma. Com o argumento de que a escola é um ambiente de socialização, a gerente cita que fora da sala de aula, no tempo livre, os estudantes são incentivados a interagirem uns com os outros. Outra ferramenta é disponibilizar, no intervalo, brincadeiras lúdicas, jogos e atividades para que as turmas se entretenham. Na próxima semana, a psicóloga deverá acompanhar os alunos de forma individual. “A psicóloga está preparada para lidar com a dependência desses alunos com o celular. Ela vai iniciar o trabalho dentro da sala de identificação, conversa e acolhimento”, completa Marlucy. Estudante de ensino médio, Letícia Soares Losi, de 17 anos, está na instituição desde o ensino fundamental. A jovem já tinha consciência sobre o controle com o uso do celular, porque antes era liberada para usar apenas no intervalo, mas no ano passado a escola também restringiu nessas ocasiões. Letícia comenta que por uma questão geracional, o celular é item indispensável, só que o mesmo traz uma série de consequências. “Eu vou generalizar minha geração, nós somos imediatistas, sempre estamos no feed, passando vídeos, queremos respostas rápidas e que nosso cérebro interaja com aquilo de forma instantânea. Numa aula de uma hora, a gente não consegue focar”, fala. Na visão dela, a proibição do uso tem seus benefícios, principalmente para quem está nessa fase de estudos. “Eu vejo de forma positiva. […] Tirando o celular, a gente acaba focando e não vai ter o aparelho do lado com alguma notificação”, relata. A opinião dos pais que têm os filhos matriculados na escola também não é diferente. Kenia Aniz, de 41 anos, é mãe do Heitor Aniz, de 8 anos, que está no 3º ano do ensino fundamental. Ela conta que o menino não é de mexer muito no celular, mas estava com receio de que ele fosse levado a isso devido ao exemplo dos colegas de turma. “Na sala dele nunca tivemos esse problema, mas agora no 3º ano era uma preocupação minha, porque os alunos já começam a usar o celular. Esse era o meu medo, dele ter contato com alunos maiores que iriam ficar no celular e o incentivar a usar também”, esclarece. A veterinária avalia a lei federal como positiva e algo que já deveria ter sido sancionado há muitos anos. Ela também não isenta a responsabilidade das escolas em garantirem um ambiente adequado para que a lei tenha mais efeitos. “Eu acho que é uma lei que já deveria ter há muito tempo. A escola não é lugar para mexer em celular, as crianças têm que interagir entre elas e a escola tem que proporcionar isso no sentido de pesquisa, distração, incentivo ao ensino”, destaca. Quando percebeu que a filha estava passando tempo demais mexendo no celular, Antônio Marcos Rodrigues de Carvalho, de 52 anos, viu que era hora de intervir. A solução do microempresário foi incentivar Heloisa Santin, de 14 anos, a praticar esportes. “A partir do momento que ela começou a praticar esportes, ela deixou um pouquinho o celular de lado, mas antes disso ela usava muito”, relata. A medida que proíbe alunos de usarem telefone celular e outros aparelhos eletrônicos portáteis em escolas públicas e particulares, segundo o comerciante, traz impactos positivos. “Eu acho muito importante que não se use celular dentro das salas de aulas, é uma lei que vem para melhorar”, reforça. Gerente de educação da Rede Sesi Mato Grosso do Sul, Paula Nudimila de Oliveira Silva, conta que há 10 anos a instituição tem a política normativa de proibição do uso de celular. A escola, assim como a do Sesc, não fará grandes ajustes. Porém, a questão é reforçar o que agora é uma lei nacional. “Essa lei traz um processo de sensibilização contínua com os celulares. Nós fazíamos essa sensibilização em um único momento do ano. Agora, nossas ações estão voltadas para acontecer com uma periodicidade maior”, declara. Paula Nudimila esclarece que os alunos a partir do 6º ano não sofrem muito com a falta do uso do celular na escola, porque aprenderam desde cedo que não podem utilizá-lo, por outro lado, os alunos que ingressam na instituição para cursar o ensino médio tem um estranhamento, pois nunca tiveram essa experiência. Essa postura da instituição promove um espaço para que os alunos tenham relações sociais. O celular também não é recolhido, pois o intuito é ensinar aos alunos a entender o momento de cada coisa. Na sala de aula não é o momento de usar o celular, então eles formam esses alunos para aprender a se comportar em cada ambiente. Sobre a política da escola, que há uma década restringia o acesso, a gerente de educação fala que a medida era tomada uma vez que a instituição sempre entendeu os efeitos negativos do aparelho. “A gente já percebeu desde muito cedo que o uso inadequado de celular causava danos à desconcentração do aluno, porque se você não tiver o foco pedagógico, o aluno se dispersa de uma maneira muito fácil”, diz. O celular, conforme ela, não é proibido completamente por uma garantia do direito fundamental do aluno. Isso significa que eles podem usar o aparelho quando precisam comprar algo na cantina e usar o aplicativo do banco ou o cartão virtual para pagarem. Outra exceção são as atividades pedagógicas e nessas ocasiões a escola envia uma notificação para os pais informando que será permitido o uso do celular. Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais .