“Eu considero isso aqui uma família para mim, não vou largar. Se eu morrer, quero que me enterrem aqui de tanto que gosto daqui”, relata Marinho Moreira Borges, conhecido como seu Marinho e, para os jogadores mais íntimos, Véio, sobre a Praça do Redondo, no bairro Buriti. Ele deixou a bebida e o cigarro de lado por conta do futebol e de sua família, e essa é só uma das histórias que a gente escuta quando resolve assistir a ‘pelada’ da turma no fim de semana na região. Todo sábado, o compromisso é sagrado e reúne pessoas de diferentes bairros e idades. Tudo começou com travas pequenas de metalon, um tipo de aço carbono. “Aqui era mato, tudo cheio de espinhos. Eu tirava do meu bolso para pagar, alguns ajudam, mas a maioria não tem condições. O primeiro colete eu comprei do meu bolso. É o único lazer nosso, foi lutado aqui”, conta Marinho sobre o momento que resolveu dar força e manter o futebol por ali. Os times são formados por cinco jogadores, e tem sábados que rendem até mais de cinco times. Quem fizer dois gols primeiro leva a vitória, e, se houver empate, os dois saem. Mas, caso haja poucos times, a decisão é feita por pênaltis. Faça chuva ou faça sol, todo sábado, lá pelas três e meia da tarde, Seu Marinho começa a se organizar para começar a pelada no Redondo. Hoje, aos 71 anos, quem busca as traves são seu neto, amigos e vizinhos, mas no começo de sua história com a praça era diferente. “Tinha vez que eu vinha de casa com a garrafa d’água, saco de rede nas costas e a sacola de coletes”, Marinho conta sobre sua iniciativa aos 50 anos. Natural de Ribas do Rio Pardo, sua paixão pelo futebol começou desde pequeno. Na juventude, jogou pelo time do Atlântico. Atualmente, mora no Bairro São Conrado há mais de 30 anos. Já foi jornaleiro, engraxate, picolezeiro e hoje atua como pintor, além de se considerar o juiz em campo. Brigas? Não são toleradas por Seu Marinho. E se alguém começar a discutir, já está fora do jogo. “Aqui não tem diferença nenhuma. Não passo a mão na cabeça de ninguém. Meu filho jogou bola aqui e brigou com um amigo nosso, tomei o colete e coloquei para fora. Não deixo de jeito nenhum”, contou, lembrando que nunca o desrespeitam e que encontra colegas em todo lugar da cidade, que já passaram pelo campo da praça. Mario Martines, de 61 anos, é um dos amigos mais antigos que acompanha, há mais de 15 anos, o futebol no Redondo. Algumas semanas joga, e em outras vem apenas para acompanhar. “Para ele (Seu Marinho) é tudo. É a vida dele aqui. Ficou como dele, ninguém tira ele daqui”, relata. As amizades construídas ultrapassam o campo, com confraternizações no final do ano e na consolidação do seu time, Real Marinho, que há cinco anos participa de campeonatos de futebol amador terrão. Vaneo Miranda, de 34 anos, vem do bairro Nova Lima para jogar a pelada de sábado e também participa do Real Marinho. O neto mais velho de Marinho, Wagner Borges, de 30 anos, diz que tem interesse em continuar a tradição de seu avô no futebol do Redondo. Wagner tem dois empregos, por isso tem pouco tempo para lazer ou exercício físico durante sua rotina, e tem o futebol como único exercício praticado na semana. “Faz diferença. Faz esquecer dos problemas”. Futebol para mim é tudo. É sagrado. É minha vida. É saúde. É meu lazer. A prioridade é o futebol. Toda a vida, as amizades foram construídas pelo futebol, só alegria”, finaliza seu Marinho. E adianta fazer exercício uma vez na semana? E como seu Marinho mudou de vida por causa da atividade, aqui vai uma dica de profissional para quem anda em busca de bem-estar. Em comparação com o sedentarismo total, fazer exercício uma vez por semana já proporciona uma diferença absurda na saúde, afirma o médico especialista em medicina do exercício e esporte, Cláudio Baisch. O recomendado é acumular, ao longo da semana, entre 150 e 350 minutos de exercício físico. “Tanto cardiovascular quanto musculoesquelético. Porque a gente quer prevenir também a atrofia muscular, que vai acontecendo naturalmente com a idade. Se a pessoa faz exercício, mesmo que seja uma vez por semana, já retarda ou até previne que essa atrofia muscular aconteça”, explica o especialista. Como o futebol é um esporte que tem picos de alta intensidade, ele também alerta para a importância, na meia-idade, de realizar um check-up cardiológico uma vez por ano para poder fazer atividades físicas com mais segurança e tranquilidade. Como a pessoa leva isso para o seu dia a dia faz toda a diferença. Esse olhar de ter o esporte como um momento para relaxar e curtir, na meia-idade, quando não há pressão profissional para o alto rendimento, muda a prática, segundo a coordenadora do Núcleo de Psicologia do Esporte (CRP14), Maria Celina. “Nesse momento vou me dedicar a mim. Esse olhar facilita ver a prática como uma forma benéfica, mesmo sendo uma vez por semana”, explica a psicóloga. Siga o Lado B no WhatsApp , um canal para quebrar a rotina do jornalismo de MS! Clique aqui para acessar o canal do Lado B e siga nossas redes sociais .