Com janelas quebradas, tintura desgastada e teias de aranha, o emblemático Monumento à Imigração Japonesa, localizado na Praça do Rádio Clube, no centro de Campo Grande, que já foi motivo de curiosidade para quem passava pelo local, agora reflete o abandono e a falta de conservação. Na última quarta-feira (15), a reportagem constatou o estado de deterioração da obra, que celebra a imigração japonesa na cidade, o que representa não apenas um desrespeito à memória da colônia japonesa, mas também ao patrimônio histórico e cultural de Campo Grande. A obra, assinada por Shoji Oikawa, foi inaugurada em 26 de agosto de 1979, em celebração aos 70 anos da imigração japonesa. O monumento é uma representação do “Goju-no-tô”, um pagode de cinco andares, estrutura típica da arquitetura tradicional de países asiáticos como Japão, China, Coreias e Nepal. No entanto, atualmente o monumento apresenta janelas em miniatura quebradas, tintura vermelha desgastada pela ação do tempo, e grades brancas que adornavam sua estrutura tortas ou arrancadas. Até mesmo teias de aranha foram encontradas no monumento. Ao lado, a pedra memorial, conhecida como “ireihi”, em homenagem aos imigrantes pioneiros, também sofre com a degradação. A base está comprometida, e a pedra de mármore preto esculpida à mão por Shoji Oikawa já não conserva seu brilho original. A situação não passou despercebida pela comunidade japonesa em Campo Grande. Segundo o vice-presidente cultural e esportivo da Associação Esportiva e Cultural Nipo Brasileira, Cláudio Sussumu Oikawa, há mais de um ano a entidade tenta autorização da Prefeitura para realizar a restauração do monumento por conta própria, mas o pedido segue sem resposta. “Pedimos para a Prefeitura porque não podemos mexer; é um monumento em espaço público. Então precisamos de autorização para pintar, mas nunca conseguimos. Já tem mais de um ano que estamos tentando, mas a burocracia é enorme. Parece que neste ano algo será feito, então seguimos aguardando”, explica Cláudio. Memórias e significados – Cláudio destaca que o monumento é um exemplo arquitetônico do “Goju-no-tô”, amplamente usado no Japão na construção de templos e jardins. Em sua forma completa, ele simboliza os cinco elementos da cosmologia budista. A parte inferior, em contato com o chão, representa o chi (terra); a seção seguinte simboliza o sui (água). O ka (fogo) está presente na seção que envolve a luz ou chama da lanterna, enquanto o fū (ar) e o kū (vazio ou espírito) são representados pelas duas últimas seções, mais altas e voltadas para o céu, simbolizando a energia divina que mantém todos os elementos em harmonia. “Esses segmentos expressam a ideia de que, após a morte, nossos corpos físicos retornarão à sua forma original e elementar”, explica o vice-presidente cultural e esportivo da Associação Nipo. Cláudio explica que o monumento também representa uma memória pessoal e familiar, já que Shoji Oikawa foi seu avô. “Ele esculpiu tudo e construiu com as próprias mãos. Era carpinteiro no Japão”, comenta. Shoji foi criador de diversos símbolos da imigração japonesa em Campo Grande, como o portal japonês, o “tori”, na sede campestre da Associação Nipo Brasileira, e uma réplica do navio Kasato Maru, que trouxe os primeiros imigrantes japoneses ao Brasil em 1908. Segundo Cláudio, seu avô chegou ao Brasil em 1933, pelo porto de Santos (SP), no navio Santos Maru, e foi homenageado pelo governo japonês em 1959 com a medalha de mérito Zuiho Sho por seus serviços à comunidade japonesa no Brasil. Ele faleceu em Campo Grande no dia 20 de setembro de 1995. Manutenção – A reportagem entrou em contato com a Prefeitura de Campo Grande para saber quando foi realizada a última manutenção no monumento e se há previsão para sua revitalização. Até o fechamento desta matéria, não houve retorno, mas o espaço segue aberto para pronunciamentos futuros. Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais .