Ironia ou não, pouco antes da hora de início do Bloco Calcinha Molhada, uma pancada de chuva atingiu vários bairros de Campo Grande. Há quem diga que a água veio para fazer jus ao nome do grupo anfitrião da festa, que há 9 anos ocupa a Praça Aquidauana. Seja isso ou não, para quem esperou um ano inteiro pelo Carnaval, a chuva não foi motivo para deixar de curtir. “A gente realmente está com a calcinha molhada e o propósito é esse. Então, está tudo maravilhoso. Para a gente é uma delícia ver que a chuva veio e a galera não deixou de comparecer”, comenta Renata Dias, uma das organizadoras do bloco. Em sua nona edição, o Calcinha Molhada chegou a anunciar que não sairia no Carnaval deste ano, porém, atendendo a pedidos dos foliões, a decisão foi revertida duas semanas atrás. “Nós estávamos muito cansadas, mas as pessoas começaram a mandar muitas mensagens dizendo que estavam esperando e aí decidimos sair”, explica. Por mais um ano, o bloco garantiu diversão gratuita e levantou importantes bandeiras, com mensagens a favor da luta das mulheres, crianças e da comunidade LGBT+. “A gente quer que as pessoas venham livres para se divertir, rebolar, usar a roupa que quiserem e serem o que quiserem. Que as crianças se sintam seguras, se divirtam e que a festa seja de muito respeito”, completa. Fã de Carnaval, Natália Gameiro, de 35 anos, curtiu a primeira noite do período de festas que estava ansiosa para que chegasse. Por causa da chuva, ela até precisou trocar de look e colocar um plano B, no entanto, não arredou o pé da Praça Aquidauana. “O clima é de festa e está calor, então, está tudo bem. O bloco se chama Calcinha Molhada, faz todo sentido chover”, brinca. A arquiteta conta que se reúne com um grupo de amigos há 10 anos para aproveitarem juntos o Carnaval. De acordo com ela, a noite de sábado foi só o primeiro dia do circuito que ainda vem por aí. “Carnaval é o momento que a gente tem certeza que vai reunir todos os nossos amigos em volta de um projeto que é pura diversão”, finaliza. Entre os foliões, cada um se divertiu à sua maneira. Entre os amigos Kendra Morimoto, de 28 anos, e André Kodjaoglanian, de 32, a escolha foi se fantasiar em dupla. “Eu escolhi vir de diabinha porque gosto da cor vermelha e acho que chama atenção, meu amigo veio de anjinho para um complementar a fantasia do outro”, comenta a digital influencer. Para André, a chegada do Carnaval foi aguardada e agora que chegou, a expectativa é de que os próximos dias sejam muito bem aproveitados. “A gente fica na espera desses bloquinhos todos os anos, já viraram culturais em Campo Grande. Logo quando a chuva deu uma trégua, viemos pra cá correndo”, detalha. Na folia do Calcinha, além de música variada e apresentação de escola de samba, o rolê teve espaço para intervenções circenses. No alto de pernas de pau, as artistas Fran Corona e Nathália Maluf foram destaques da festa. “Perna de pau é muito legal porque está no imaginário popular das pessoas, das crianças. Elas veem e adoram, ficam encantadas. Os idosos lembram de histórias e tudo isso é uma alegria para a gente. Nós trabalhamos com teatro e circo e a arte faz parte da nossa identidade e nós sabemos que o Carnaval é isso, é arte, é cultura”, relata. Pela primeira vez desfilando com pernas de pau no Carnaval, Nathália Maluf afirma que o local de estreia não poderia ter sido melhor. “O Carnaval é uma festa do povo, que tem que ser feita pelo povo. O Calcinha Molhada é um bloco maravilhoso porque é construído por mulheres. Recebe todos os públicos, mas em especial, reforça a ideia de que não é não, e que temos que ocupar esses espaços com muita liberdade e respeito”, finaliza.