Conta um pouco da sua carreira, como começou no Squash? Aonde treinava? Com quanto anos? Quem eram seus amigos, rivais e treinadores na época?
Eu comecei a jogar squash no clube Paissandu em 1984. Eu jogava tênis até então e quando inauguraram as quadras de squash, comecei a brincar um pouco e acabei adorando o jogo. Fui um dos primeiros a começar lá, junto com o Zé Pedro. Mais ou menos na mesma época vários outros jogadores também começaram a jogar, como: Lollo Magrath, os 3 irmãos Borges, Beto Masset, Quinho e Felipe Candiota, Eduardo Saad, etc…
Naquela época, não tínhamos professores ou treinadores, mas tínhamos a sorte de ter duas pessoas que jogavam a mais tempo e puderam nos ensinar, que foram o John Hughes e o Robert Walker. Tinha uma turma grande de amigos treinando juntos, então eram os rivais e ao mesmo tempo, grandes amigos, um puxando o outro. Isso foi fundamental para o crescimento do esporto no Paissandu e no Rio.
Nessa época já havia o Rio Squash Clube e grandes jogadores como o Marcio Ribemboim e o Paulo Dale que apesar de rivais, também eram amigos e nos ajudaram nesse crescimento.
Ao longo da carreira, tive muita ajuda do Lollo pois sempre foi uma das pessoas que mais entendem do esporte e me ajudou muito. Além dele, tive também passagens onde alguns treinadores de fora vinham para o Brasil, como Leif Leiner e Joe Shaw (treinador do David Palmer). Uma coisa que fiz que me ajudou bastante foi durante alguns anos, passar o mês de Janeiro em Londres treinando lá, isso sempre ajudou muito.
A historia mais contada sobre voce é o titulo de CAMPEÃO Mundial universitário, fazendo parte de um seleto grupo de atletas como Tierry Lincon, Aschour e o atula campeão Mostafa Asal. Conta direitinho essa historia para nós, como foi esse torneio?
Foi maravilhoso! Viajei para lá com o Zé Pedro e éramos totalmente desconhecidos. Tinham as estrelas do torneio como o Thierry, o Canadense Kelly Patrick e mais alguns. Fomos ganhando alguns jogos e o pessoal passou a falar um pouco mais sobre os Brasileiros, mas a atenção veio mesmo quando ganhei do Thierry na semi de 3×1. Nem ele nem a organização do torneio acreditou e para ser honesto, eu não conhecia o Thierry e isso fez com que eu entrasse para o jogo bem confiante do que poderia fazer.
Uma passagem interessante é que o canadense Kelly, com quem joguei a final, deu uma esnobada muito grande em mim e o Zé antes do início do torneio, dizendo que éramos ruim, na nossa frente (ele não sabia que estávamos na van com ele). Jogando a final, ele abriu 2×0 e lembro claramente de sair no intervalo, dizer para o Zé e o John Hughes que eu precisava mudar algo pois não podia perder para ele. Naquele momento, decidimos em conjunto que eu deveria fazer os pontos durarem um pouco mais pois estava bem fisicamente e a nossa decisão foi acertada, virei o jogo. Quando fui apertar a mão do Kelly, comentei que os Brasileiros não eram tão ruins assim e saí da quadra. A cara dele foi ótima.
Isso mostra que devemos sempre ter humildade e acima de tudo, respeito pelos adversários. O jogo só é ganho na quadra, nunca antecipadamente e na hora que o juiz apita.
Seu filho esta jogando o juvenil e voce tem acompanhado muito esse desenvolvimento dele e ido em varios torneios, como voce ve o SQUASH JUVENIL de hoje comparado com sua época?
Na minha época, havia menos estrutura e menos treinadores, além obviamente de conhecimento sobre as técnicas do esporte. Mas em compensação, havia bem mais juvenis jogando. Havia também uma concentração muito grande dos locais onde treinávamos o que gerava muito mais possibilidade de treinar. Era um esporte novo no país e fazia com que todos estivessem aprendendo juntos. Eu ia para o Paissandú e todos os dias, tinham pelo menos 10 pessoas lá jogando e treinando juntos, isso foi fundamental para o crescimento. Os torneios eram maiores, chaves de 32 nas categorias juvenil e de 64 no adulto, isso gera um incentivo enorme para os atletas.
Hoje, temos várias treinadores muito bons que ajudam os juvenis porém estão muito espalhados. Precisamos ter, pelo menos na mesma cidade, eles jogando juntos muito mais do que jogam hoje. A maioria acaba se encontrando em torneios apenas e na verdade deveriam se ver pelo menos 2 vezes por semana. Não apenas para treinar, mas para criarem relação de amizade e companheirismo.
A outra historia que temos sobre voce é sobre o acidente que teve, como voce esta hoje em dia? Qual foi seu maior ranking na PSA?
O acidente ocorreu em Abril de 97, alguns meses após eu ter ganho o mundial que foi em Agosto de 96. Estava esquiando na água, quando, por um erro meu, torci o joelho rompendo 3 ligamentos, 2 músculos, tendão e cortando o nervo que alimenta o musculo usado para levantar o pé. Passei por cirurgia e 20 meses de fisioterapia, até ser liberado para voltar a fazer esporte.
Obviamente, no dia que recebi o diagnostico real da situação, passei uma tarde e noite muito ruim, tinha 24 anos, estava no meu auge e escuto dos médicos que íam fazer de tudo para eu conseguir andar. Fiquei muito chateado com isso e no dia seguinte ia ao hospital conversar com os dois médicos que fariam minha cirurgia. Encontrei com eles num hospital ortopédico pediátrico e fiquei 1 hora na recepção esperando, o que muito provavelmente me salvou. Durante essa 1 hora, devo ter visto 20 crianças que nunca iriam andar ou se levantar, jamais poderiam segurar um copo ou fazer as funções básicas. Aquela hora me fez perceber que o que eu tinha não era nada, quando pensamos de forma relativa, eu já havia viajado o mundo, tinha resultados no squash que seguirão comigo para o resto da vida. Portanto, não tinha direito de ficar chateado pelo problema que estava e além do mais, sabia que tudo iria se ajustar de um jeito que me deixasse seguir jogando.
Agora a pergunta de US$ 1 milhão, o que você faria se tivesse uma enorme verba disponível para investir no SQUASH brasileiro? Como você estruturaria o desenvolvimento do esporte?
Essa é uma pergunta bem difícil pois estou como espectador no mundo do squash. Mas as coisas óbvias seria investir num centro de treinamento para os atletas. Esse centro de treinamento seria para os atletas profissionais e para os juvenis que estiverem despontando. Para o juvenil ter autorização para treinar lá, precisaria estar jogando o circuito juvenil e estar bem ranqueado, isso faria com que mais juvenis tivessem interesse em participar do circuito Brasileiro Juvenil.
Vou finalizar dizendo que no final de semana do dia 7/10, realizei um dos maiores sonhos de um pai e atleta. Consegui entrar na quadra junto com meu filho num torneio de duplas e jogar de igual para igual com as outras duplas que lá estavam. Nós pais, queremos sempre ver nossos filhos (as) se destacando no que eles se propuserem a fazer, quando essa coisa é o mesmo esporte que nos ensinou tanta coisa, nos moldou nas pessoas que somos hoje, melhor ainda. Agora, posso dizer que a felicidade de dividir a quadro com um deles, NÃO TEM PREÇO!!!!!!!!!!!!!!
Mauricio Penteado
Fundador do SDA e criador da Escola do Squash